‘Goodbye, Brazil’: como a Flórida virou reduto da elite brasileira
“Disney style lover & Orlando, FL explorer” diz o perfil no Instagram da paulistana Carolina Grabova, 41. Aos 17, ela participou do programa de estágio dos parques da Disney. Era para ser uma simples temporada, tornou-se uma vida: desde 1996 radicada em Orlando, no estado da Flórida, Grabova hoje trabalha como modelo, é influenciadora digital e uma espécie de embaixadora especial brasileira no mundo mágico de Walt Disney. “A Flórida tem um jeito casual de ser, um inverno ameno e praias lindas, o que é familiar para os brasileiros. Também é [geograficamente] o estado mais próximo ao Brasil”, diz ela, que em 2020 foi a primeira brasileira escolhida para apresentar a Walt Disney World Marathon, maratona realizada desde 1994.
Embora simbolize o estilo “Orlando, FL explorer”, Grabova considera difícil definir o perfil dos brasileiros na Flórida, diante da diversidade de experiências. Entretanto, ela destaca qualidade de vida e segurança como pontos que continuam a atrair conterrâneos para lá — dos 1,3 milhão de brasileiros morando em território norte-americano, estima-se que 300 mil se instalaram na Flórida, indica o Itamaraty. Entre maio e agosto de 2020, o mercado imobiliário de casas de férias na cidade cresceu 38%, impulsionado por brasileiros, segundo dados do The Grove Resort & Water Park, misto de rede hoteleira e desenvolvedor que oferece unidades “a 5 minutos” do Walt Disney World, como diz o site oficial.
Esperar 16 horas na fila do auxílio emergencial de R$ 600 não faz parte da realidade desses investidores. Segundo dados da consultoria Elite International Realty, cerca de 300 imóveis foram adquiridos por brasileiros em Orlando e Miami, em 2019; na última década, a média anual foi 275. Em Miami Beach, o preço das casas de luxo subiu 61%, alavancado pela demanda brasileira, ultrapassando a marca de US$ 10 milhões (cerca de R$ 54 milhões).
Para Daniel Ickowicz, diretor de vendas da Elite International Realty, estrangeiros escolhem investir nos Estados Unidos, especialmente na Flórida, por fatores como segurança, sociedade, universidades e hospitais “super modernos”. “Além disso, o clima de Miami é muito favorável à prática de esportes náuticos, barcos, jet ski, bem como golfe. E Orlando é o centro dos parques de diversão para crianças, adolescentes e para se divertir ao ar livre.”
Pré-pandemia, os Estados Unidos receberam a visita de 2,1 milhões de brasileiros; 70,9% viajando a passeio. Flórida foi o principal destino (58,12% dos turistas). Entre as cidades floridenses, Orlando (40,88%) e Miami (26,97%) lideram, segundo dados oficiais do NTTO (National Travel and Tourism Office).
Fato é que a Flórida e os brasileiros têm uma relação bilateral especial, conforme escreveu o diplomata Adalnio Senna Ganem no diário Miami Herald, em 2017. “Andando pela Lincoln Road em Miami Beach ou pelo Bayside Marketplace, não é incomum ouvir um ritmo diferente de palavras sendo ditas — é o português do Brasil. Na Ocean Drive, você pode pedir ‘caipirinhas’, a mais popular bebida brasileira. Em Wynwood, você pode ver o trabalho incrível de artistas brasileiros renomados, como Os Gêmeos, Nina Pandolfo, Eduardo Kobra e Panmela Castro. […] Acima de tudo, você pode ver a felicidade dos brasileiros refletida na arte de Romero Britto”, ilustrou o autor, à época cônsul-geral do Brasil em Miami.
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